Movimento de jornalistas pede “ética na informação”

Um movimento a partir de Brasília envolve profissionais e entidades das áreas de comunicação e direitos humanos dispostos a enfrentar a avalanche de desinformação que se abate sobre a vida política brasileira, pondo em risco a própria democracia.

O grupo está em formação e buscando adesões. Um pré-manifesto já está circulando nas redes sociais:

Ética na Informação

Basta de desinformação. No contexto atual é necessário aos profissionais da área de comunicação e às entidades que defendem e respeitam os direitos humanos, os direitos políticos, sociais e a democracia no Brasil garantir o direito à informação com credibilidade. O objetivo da iniciativa “Ética na Informação” é o de alertar sobre o uso da desinformação como estratégia para a construção de narrativas que não contribuem com o processo democrático, que atacam as conquistas sociais e os direitos humanos e ameaçam a democracia.

A desinformação é empregada como uma ferramenta de manipulação utilizada por grupos organizados que se apropriam das redes sociais. Eles usam recursos econômicos, conhecimentos tecnológicos e se valem da facilidade e da velocidade da comunicação virtual e da falta de regulação da internet (a aprovação, em 2018, da Lei Geral de Proteção de Dados, foi um marco nesse sentido, e passará a valer em 2020), para divulgar narrativas que disseminam o ódio, espalham o medo e difamam pessoas para que prevaleça uma versão distorcida a respeito dos fatos.

Essa mesma lógica se aplica aos meios tradicionais de comunicação. Por tanto, o debate sobre ética na informação também abrange o espaço do jornalismo impresso, televisivo e radiofônico para o fortalecimento do processo de produção da informação como um compromisso social e um bem público.

Conhecidas como fake news, as versões distorcidas da informação se apropriam de algum traço de realidade de forma a conferir credibilidade às teses de grupos de ideologia indefensável. A desinformação imita o jornalismo na forma, mas não nos procedimentos. São criados personagens e inventados fatos para construir mentiras estratégicas para que pareçam verídicas e ganhem impulso nas redes sociais e, com isso, conquistar a simpatia de cidadãos de boa fé.

Em alguns casos, o discurso não é alterado mas é feita edição das imagens, modificando a velocidade dos frames, ou o áudio da gravação, para que o protagonista aparente estar alterado e perca credibilidade junto a plateia. Outra face da manipulação tecnológica que precisamos enfrentar.

Embora já exista um esboço de controle, as redes sociais permanecem como um mundo de penumbra, onde nem sempre é possível identificar autores e seus propagadores. É um mundo sem impressão digital. Não sabemos de fato quem está teclando e não há regras claras sobre o seu uso.

A iniciativa Ética na Informação é formada por profissionais da área de comunicação e instituições preocupadas com esse fenômeno já conhecido do grande público, principalmente após as eleições de 2016 nos EUA, o debate sobre a regulação da internet em toda a Europa, intensificado em 2017, e a recente eleição presidencial no Brasil.

A intenção dessa proposta é discutir o que é informação, identificar as estratégias de desinformação e agir para encontrar caminhos que exponham essa rede global da desinformação como ferramenta de manipulação. Para isso é fundamental discutir os temas da desinformação, regulação do uso das redes sociais, informação e poder, desinformação e governabilidade, informação e ética e deepweb (web profunda, que não pode ser acessada por mecanismos de buscas).

Neste cenário, a proposta de reforma da Previdência Social é um exemplo claro de desinformação, entre várias outras estratégias de desinformação que estão circulando tanto nas redes sociais como na imprensa tradicional. A proposta do governo coloca aposentados e pensionistas como vilões do déficit financeiro do Estado e não revela o perdão das dívidas concedido a grandes empresários, benefícios fiscais para banqueiros, isenção fiscal para indústrias e irresponsabilidade no gasto público. Esses sim são os verdadeiros vilões das contas públicas.

No entanto, é necessário destacar que a revolução digital e o acessos as redes de relacionamento revitalizaram a democracia, mas é imprescindível estabelecer uma governança que resguarde os interesses do cidadão e ofereça informações amparadas na ética e nas boas práticas de comunicação em defesa da democracia e dos direitos humanos.

Assinam o manifesto as seguintes entidades e pessoas:

FENAJ- https://fenaj.org.br/ABRASCO- https://www.abrasco.org.br/site/
Observatório da Democracia https://www.observatoriodademocracia.org.br/
Instituto de História Social da América Latina

Márcia Turcato- jornalista, Brasília
Chico Sant’Anna- jornalista e pesquisador acadêmico, Brasília
Hélio Doyle- jornalista, Brasília
Renan Antunes de Oliveira- jornalista, Florianópolis
Letícia Heinzelmann- jornalista, Porto Alegre
Paulo de Tarso Riccordi- jornalista, Porto Alegre
Alexandre Fonseca Santos- médico epidemiologista
Hélio Doyle – representante da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

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