Desigualdade e falta de planejamento integrado na saúde pública travam combate ao novo coronavírus

Saúde pública e isolamento social foram os temas da primeira webconferência do ciclo Diálogos, Vida e Democracia

A pandemia do novo coronavírus atingiu o Brasil num momento de profunda crise política e econômica. Sem qualquer ação efetiva e integrada do governo federal para frear o avanço da doença e o número de mortes, vários Estados e municípios tomaram medidas de isolamento social e enfrentam enormes dificuldades em ampliar o atendimento às pessoas mais pobres. Estes foram os temas da webconferência “Coronavírus, isolamento social e saúde pública”, primeira do ciclo Diálogos, Vida e Democracia, realizado pelo Observatório da Democracia para construir propostas democráticas para o Brasil.

A webconferência “Coronavírus, isolamento social e saúde pública” foi realizada nesta segunda-feira (04/05) das 14h30 às 15h30 e transmitida pelas páginas no Facebook das fundações integrantes do Observatório da Democracia e das TV Comunitária e da ABI. Durante a transmissão, a webconferência teve 17, 7 mil visualizações.

Com a mediação do presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, participaram da primeira conversa os ex-ministros da Saúde Arthur Chioro e José Gomes Temporão, o líder do grupo de pesquisa “Desenvolvimento, Complexo Econômico-Industrial e Inovação em Saúde” da Fiocruz e ex-Secretário de Ciência & Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Augusto Grabois Gadelha, e o secretário de Estado de Saúde de Pernambuco , André Longo.

Mercadante provocou os convidados a debaterem sobre questões como a capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) no enfrentamento à pandemia da Covid-19, qual a estratégia para sair do isolamento social com segurança e de que forma é possível combater a falsa oposição entre saúde e economia. 

O secretário André Longo compartilhou os desafios como gestor público no enfrentamento à crise sanitária, como a grande dificuldade que o governo do Estado enfrenta para ampliar leitos em Pernambuco e preparar o sistema público para o furacão que é a Covid-19. “Começamos a tomar medidas de isolamento precocemente, mas temos que lamentar quando a liderança negativa do presidente Bolsonaro que ocupa a mídia para combater a quarentena. Desse modo, temos uma fragilização no controle”, destaca Longo.

Ex-ministro da Saúde, Chioro ressaltou que os aspectos econômicos e sociais são importantes e que a pandemia da Covid-19, no Brasil, encontrou um país extremamente desigual. Inicialmente, a doença atingiu as classes média e alta da sociedade brasileira. Hoje, apontou Chioro, atingiu as periferias, onde as pessoas não têm acesso à saúde complementar e privada dos planos de saúde.

Chioro também falou sobre o impacto da desmontagem do programa Mais Médicos e a desestruturação da área de atenção básica. Hoje, essas medidas contra o SUS cobram um preço altíssimo. Essa fatura pesa contra a capacidade de resposta, da investigação dos casos assintomáticos leves, o acompanhamento de pessoas idosas, de pessoas em comorbidade e, em particular, da população mais vulnerável que vive nas comunidades periféricas.

“Outro aspecto fundamental foi a incapacidade do governo brasileiro de articular a nossa capacidade de aquisição e garantia de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) tanto dos trabalhadores da saúde pública quanto do setor privado. Além do mais, a incompetência de fazer a reconversão da nossa indústria é outro fator de atraso, já que não investimos em pesquisa como precisava”, destaca Chioro.

José Gomes Temporão, também ex- ministro da Saúde, explica que a Covid-19 ainda está sendo conhecida e as descobertas são feitas nos hospitais, no tratamento das pessoas internadas. Quanto aos remédios para tratamento e vacinas, o quadro é o mesmo: não há um medicamento para impedir o agravamento da doença, nem há uma vacina para prevenir a contaminação pelo novocoronavírus.

Temporão destacou também que o isolamento social adotada na segunda quinzena de março em cidades como São Paulo, foi uma medida importante para conter a velocidade da disseminação, apesar do comportamento irresponsável do presidente e da inação das autoridades sanitárias federais, e que ainda assim o Brasil é um dos países com maior taxa de velocidade de disseminação da doença e as projeções mostram que neste mês (maio) e junho este quadro será dramático. “É evidente que o vírus não é democrático. Sobre a questão econômica, temos uma lentidão nas tomadas de decisão por parte do governo. A ajuda econômica não chega e, quando chega, é insuficiente. Isso faz com que as pessoas em vulnerabilidade busquem meios de sobrevivência”, resume Temporão.

Carlos Alberto Grabois Gadelha avaliou que a crise deflagrada pela pandemia da Covid-19 escancara o fato de que sem um projeto nacional de desenvolvimento o país ainda enfrentará diversos problemas além da pandemia. Ele comentou que a institucionalidade de Estado para atuar nessa crise foi desmontada e a base institucional de política pública para responder à crise foi quebrada. “A gente está em uma vulnerabilidade imensa. Em relação à tecnologia, temos a dependência de que 60% dos equipamentos da saúde são importados. Cerca de 94% do material de fármacos é de conteúdo importado. Se houver novos tratamentos terapêuticos, iremos esbarrar em uma crise gravíssima. A gente tem que reconstruir a capacidade de planejamento, capacidade de produção do Estado, capacidade de produção do País. Temos uma riqueza científica imensa para converter esse conhecimento em benefício para nossa sociedade”, afirma Gadelha.

O ciclo de webconferências Diálogos, Vida e Democracia é realizada pelo Observatório da Democracia, fórum que reúne fundações do PROS, PT, PSB, PCdoB, PDT, PSOL e Cidadania, pretende agregar forças do campo democrático da política brasileira e construir propostas para enfrentar a crise política e econômica e os impactos da Covid-19 no país. 

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