71% dos caminhoneiros são a favor de greve, mostra pesquisa da FPA

crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

Texto originalmente publicado no portal da Fundação Perseu Abramo

Pesquisa de opinião realizada pela Fundação Perseu Abramo, entre os dias 2 e 18 de maio, mostra que 71% dos caminhoneiros são favoráveis a uma nova greve do setor. Foram entrevistados 648 caminhoneiros, em 44 cidades.

As entrevistas foram feitas em locais de grande concentração de motoristas de caminhão, como postos de combustíveis, áreas portuárias e oficinas mecânicas especializadas.

No entanto, como retratado em reportagem do Brasil de Fato publicada nesta sexta, dia 7, há uma divisão entre as lideranças da categoria sobre a adesão à Greve Geral do próximo dia 14/06. Enquanto a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), que representa 700 mil caminhoneiros, anunciou adesão à Greve Geral, a decisão foi criticada por uma das lideranças que participou da greve da categoria no ano passado.

“Não haverá paralisação, isso é coisa de gente irresponsável no meio de uma negociação em que o governo tem cumprido sua parte, esse anúncio é coisa de pessoas que são contra o crescimento do Brasil e do presidente, mas garanto, não haverá paralisação” afirmou Wanderley Dedeco, identificado com a greve do ano passado, organizada principalmente por intermédio do whatsapp. A entrevista foi concedida ao repórter Igor Carvalho.

A pesquisa identificou também queda de apoio a Bolsonaro na categoria. Entre os entrevistados que afirmaram ter votado no atual presidente no segundo turno, 12,5% já avaliam o presidente como ruim e péssimo e 34,3% avaliam como regular.

A pesquisa foi feita pela Rede Nacional de Pesquisadores Associados, uma iniciativa da Fundação Perseu Abramo que tem como propósito formar um painel de pesquisas e levantamento de dados em âmbito nacional, que seja capaz de subsidiar análises sobre os mais diversos temas de interesse da instituição, tendo foco em questões sociais, políticas e econômicas.

Pesquisa da Fundação Perseu Abramo ouve caminhoneiros

A Rede Nacional de Pesquisadores Associados (RNPA) é uma iniciativa da Fundação Perseu Abramo que tem como propósito formar um painel de pesquisas e levantamento de dados em âmbito nacional, que seja capaz de subsidiar análises sobre os mais diversos temas de interesse dessa instituição, tendo foco em questões sociais, políticas e econômicas.


A RNPA começou a atuar em dezembro de 2018 em fase de testes. A partir de março de 2019, sua constituição passou a ser incorporada dentro das pesquisas e sua atuação, integrada aos diversos projetos da FPA, como o NOP (Núcleo de Opinião Pública e Pesquisa) e o Grupo de Conjuntura.


Entre os dias 2 e 18 de maio de 2019, pesquisadores integrados a RNPA da FPA fizeram parte de uma pesquisa sobre opiniões e percepções políticas dos caminhoneiros, através de entrevistas orientadas em 16 unidades da Federação, em todas as regiões do país. Foram 648 questionários enviados por 63 pesquisadores situados em 44 cidades diferentes e aplicados em locais de concentração desses caminhoneiros, como postos de combustíveis, áreas portuárias de tancagem, distritos industriais, oficinas mecânicas de caminhões e ônibus, docas de descarga atacadista, mercados públicos, locais de parada registrados em rodovias, descanso e concentração.


Das 648 entrevistas, tivemos apenas seis mulheres e 642 homens entrevistados. Foram 49,7% de motoristas de empresa e frotas, 42,6% de caminhoneiros autônomos, 4,7% cooperativados e 3% empregadores com dois ou mais funcionários. Desses, 41,6% se autodeclararam brancos, 39,2% pardos, 15,4 pretos, 1,7% amarelos e 0,9% se reconheceram como indígenas.


Em relação aos resultados propriamente ditos, foi perguntado, na opinião dos caminhoneiros, qual o principal problema neste momento? As respostas seguiram o padrão noticiado pela grande mídia. As condições de trabalho pioraram neste ultimo ano.


Três temas são os mais destacados naquilo que a pesquisa revelou: a) a possibilidade de uma nova greve que é alta em termos de disposição desses profissionais – o gás está disseminado no ambiente à espera da fagulha; b) a evidente queda de apoio político a Bolsonaro visto que essa categoria era bastante alinhada à pauta mais conservadora e direitista; c) as formas de comunicação comprovam a hipótese do uso de redes sociais, principalmente o whatsapp, mas os meios tradicionais como rádio e tevê têm seu lugar.

a) O apoio a uma nova greve é de 70%

Um ano após a greve nos caminhoneiros, podemos ver que a abrangência do apoio ao movimento chega perto dos 70% dos entrevistados (ver tabela 1), demonstrando a intensidade da mobilização alcançada. E dá uma dimensão da insatisfação ao perguntar da disposição em participar de uma nova greve (ver Tabela 2)

Na tabela 2, temos uma disposição maior para uma próxima greve, superando em intenção aqueles que pararam, somados aqueles que tiveram que parar porque não tinham condições de dirigir, quer porque foram parados por uma ação dos grevistas, quer porque as estradas estavam fechadas. Há um ano, somados os parados tivemos um índice de 69%, enquanto os que declararam intenção de parar hoje atingiram 71%.

A indecisão sobre uma nova greve demonstra ser maior entre as lideranças que mobilizam o setor que propriamente uma incapacidade de mobilizar a base, posto que apenas um a cada cinco caminhoneiros se colocaria contra a greve.

b) Cai o apoio a Bolsonaro entre os caminhoneiros;


Na análise geral, os dados sobre a avaliação do presidente Jair Bolsonaro seguem a tendência geral de maio, quando havia um número maior
de avaliações positivas que negativas (34,6% avaliando com bom e
ótimo, contra 33,9% avaliando com ruim e péssimo) – ver tabela 3.

Entretanto, o dado que nos permite demonstrar que houve queda de apoio ao presidente está no cruzamento a seguir, que mostra a avaliação negativa entre os próprios eleitores de Bolsonaro. Daqueles que declararam voto em Bolsonaro no 2° turno das eleições de 2018, 12,5% já avaliam o presidente como ruim e péssimo e 34,3% avaliam como regular. Nesse sentido, houve uma clara queda dentro do próprio eleitorado bolsonarista desse segmento. Veja os números na tabela 4:

A tabela 5 mostra os resultados de votação em 2° Turno e aprovação do governo divido por região do país (considerando a cidade de residência dos caminhoneiros):

c) O whatsapp e a tevê na comunicação e mobilização

O whatsapp é a forma de comunicação mais acessada para a mobilização entre os caminhoneiros, como se supunha. Cerca de 40% dos caminhoneiros. A televisão ainda exerce forte influência, principalmente quando a pergunta é a respeito de como o caminhoneiro se informa sobre o Brasil. Nesse sentido, há uma grande mobilização na informação sobre a situação e os debates da categoria de caminhoneiros nas redes sociais. Já os meios tradicionais, basicamente rádio e tevê, têm importância quando o assunto é o Brasil.c

Mais alguns dados sobre os meios de comunicação são importantes: quando separados eleitores de Fernando Haddad e eleitores de Jair Bolsonaro, temos que o uso do whatsapp como principal meio de comunicação para as questões da categoria entre os eleitores de Bolsonaro supera os 40%, enquanto que em relação aos eleitores de Fernando Haddad, esse número do aplicativo como principal meio é em torno de 20%. É um dado significativo, mas que não interfere, por exemplo, no engajamento e/ou mobilização, porque em ambos os casos o apoio à nova greve e a participação na greve anterior seguem os padrões gerais.

Considerações sobre a pesquisa de campo

Trata-se de uma categoria de perfil conservador, incomodada com o momento político, que provavelmente votou buscando resultados e estes ainda não apareceram. Pelo contrário, desde o último ano, a crise entre os caminhoneiros, principalmente os autônomos, agravou-se. A política de reajuste dos combustíveis do governo atual aparece como maior problema, mas a falta de atividade econômica está nas entrelinhas dos depoimentos – o trabalho deles é árduo e difícil de ser executado, mas pouco reconhecido economicamente.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *